O papel do psicólogo no tratamento dos transtornos alimentares

Fonte da Imagem: https://www.miuc.org/why-study-psychology/

 

Sabemos que comemos, ou deixamos de comer, não só pelo que a comida representa, mas muito pelo que pensamos ou sentimos diante dela. O ato de comer é sempre mediado por questões emocionais e cognitivas que nos remetem a crenças, memórias, sensações, afetos e também expectativas. Por este motivo o psicólogo está, ou deveria estar sempre presente em uma equipe multidisciplinar destinada a cuidar de pessoas que sentem alguma perturbação relacionada à alimentação. Caberá ao psicólogo ajudar o paciente a entender e rever tais aspectos envolvidos no contexto da alimentação.

Os Transtornos Alimentares são, em geral, quadros graves, que geram muito impacto na qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares. Portanto, o profissional de psicologia deve atuar sempre respaldado por protocolos internacionais atuais e baseados em evidências científicas que representem as melhores e mais confiáveis práticas e condutas de tratamento.

De acordo com um destes protocolos, por exemplo, o NICE – National Institute for Health and Care Excellence (2017), caberá ao psicólogo desde o foco nos processos de motivação e engajamento do paciente e familiares para o tratamento, até  a intervenção nos aspectos psicológicos mantenedores dos transtornos. No que se refere, principalmente à Anorexia e Bulimia Nervosas, são relevantes e devem ser priorizadas as questões ligadas à baixa autoestima, perfeccionismo, insatisfação com a imagem corporal, isolamento social e sentimentos de baixa competência pessoal. A Terapia Cognitivo-Comportamental e suas variações aparecem como as abordagens mais recomendadas para lidar com tais aspectos, buscando desafiar comportamentos, cognições e padrões de pensamento diretamente relacionados aos Transtornos Alimentares. Sabe-se que, nos pacientes com Transtornos Alimentares,  os comportamentos de restrição e compulsão alimentar costumam funcionar como respostas às dificuldades emocionais.

Outra frente de atuação do psicólogo, nestes quadros, refere-se ao trabalho junto aos familiares, os quais chegam para o tratamento necessitando de apoio e orientação. Após anos de convívio com a doença as famílias muitas vezes sentem-se culpadas e também já se adaptaram aos rituais alimentares disfuncionais dos pacientes e envolveram-se em dinâmicas que também podem estar funcionando como mantenedoras dos transtornos.  O tratamento é uma oportunidade de melhora destes padrões.

Por fim, vale destacar que a intervenção do psicólogo visa ainda resgatar os sentimentos de confiança, competência pessoal e esperança de melhora, através de um vínculo terapêutico empático, cuidadoso e profissional.

 

Rogéria Taragano

Psicóloga, Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP e Mestre em Administração pela Carnegie Mellon University.  Especialização em Transtornos Alimentares e Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto de Psiquiatria HCFMUSP. É coordenadora do atendimento ambulatorial em Anorexia Nervosa do serviço de psicologia do AMBULIM-IPq-HC-FMUSP.


Uma resposta para “O papel do psicólogo no tratamento dos transtornos alimentares”

  1. Araujo P. disse:

    Quando foi postado essa matéria?? queria referenciar em um trabalho.

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