Transtorno alimentar em homens é igual ao de mulheres?

Você sabia que homens também podem sofrer com transtornos alimentares (TA)? Inclusive, a prevalência não é tão diferente para homens e mulheres. Dados internacionais apontam que a razão é de 1:3, ou seja, para cada homem com TA existem três mulheres com a doença (Hudson et al., 2007). E uma vez que as pessoas entendem que homens também podem sofrer com TA, a pergunta que geralmente aparece em seguida é se a manifestação dos transtornos é igual nos homens e nas mulheres. A resposta genérica é sim, mas podem haver algumas particularidades.

Homens tendem a ter mais vergonha de suas atitudes alimentares transtornadas, já que infelizmente TA ainda são vistos como doenças tipicamente femininas. Isso pode fazer com que os homens tentem “esconder” sintomas alimentares e demorem mais para buscar tratamento, pelo medo do estigma. Além disso, já se sabe que até mesmo os métodos de identificaçãotradicionais para TA usados em pesquisas precisam de adaptações importantes para serem usados em amostras clínicas masculinas (Smith et al., 2017).

Em relação aos distúrbios de imagem corporal, trabalhos científicos mostram que homens com TA podem ser tão insatisfeitos quanto as mulheres com a doença. Geralmente, porém, a insatisfação não está focada em partes específicas do corpo, mas sim na percepção geral a respeito da sua forma. Os homens desejam, sim, um corpo mais magro e com menos gordura, mas não costumam ter um peso desejado, como as mulheres. Além disso, homens apresentam com mais frequência uma preocupação com a muscularidade, o que pode levar a um padrão atualmente conhecido como “comer transtornado voltado para a muscularidade”. Algumas pesquisas também apontam que, em homens, a internalização de papeis de gênero são significativamente mais responsáveis pela variância na sintomatologia dos TA do que a própria orientação sexual (Murray et al., 2013).

 

 

Ana Carolina Pereira Costa

Supervisora da equipe de Nutrição do Grupo de Atendimento aos Homens com Transtorno Alimentar (GAHTA) do Programa de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo (AMBULIM – IPq – HCFMUSP). Membro do Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade (GENTA), da Academy for EatingDisorders (AED) e do The Center For MindfulEating (TCME). Instrutora certificada de meditação e mindfuleating [Instagram].

 

 

 

Referências:

  • Hudson, J.I. et al. The prevalence and correlates of eating disorders in the National Comorbidity Survey Replication. Biol Psych. 2007;61:348 –358
  • Smith, K.E. et al. Male clinical norms and sex differences on the Eating Disorder Inventory (EDI) and Eating Disorder Examination Questionnaire (EDE-Q)..Int J Eat Disord. 2017;50:769-775
  • Murray, S.B. et al. Masculinity and femininity in the divergence of male body image concerns. J Eat Disord. 2013;1:11

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