Nesta parte 1 do texto, explicarei um pouco sobre a teoria do apego com a finalidade de relacioná-la, num segundo momento, aos Transtornos alimentares e, assim, proporcionar o entendimento da importância desta teoria no tratamento dessas doenças (com destaque para anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno de compulsão alimentar).
A teoria do apego foi elaborada e desenvolvida pelo psicólogo John Bowlby. A proposta deste autor era compreender como nós, seres humanos, nos vinculamos desde bebês e quais repercussões afetivas e relacionais os vínculos que formamos podem ter em nós.
O apego é definido como um sistema inato de vinculação do bebê com sua mãe e seu pai, ou com as figuras cuidadoras que fazem a função dos pais (avós, tios, tias, familiares, pessoas próximas). O bebê humano, por necessitar e depender de cuidados de outro humano, tem uma tendência natural para o contato com outros seres humanos. Este contato está para além da alimentação, ou seja, envolve o convívio, o toque, a proteção, a fala e todas as necessidades básicas que estão misturadas com os afetos que os cuidadores devem dar ao bebê.
A partir deste sistema inato de vinculação que acontece para com todos nós, desenvolvemos um padrão de relacionamento com as pessoas, de expressão de emoções e sentimentos, de comportamentos que estão todos ligados à nossa forma de vincular e de regular os nossos afetos. Portanto, o apego é um tipo de vínculo afetivo, social e de motivação interna, em que as bases de segurança são formadas. Para que isso aconteça, o desenvolvimento de uma relação estreita com uma figura de apego (pais, familiares, pessoas próximas) deve ocorrer. Assim, com a construção do modo de vincular, cada um de nós, de um jeito próprio, estará apto para conhecer a si e a se relacionar com o mundo.
Depois desta breve introdução, o leitor deve estar se perguntando qual a ligação que podemos fazer com os TAs.
As formas de nos vincular foi tema de estudo de Bowlby com o objetivo de acompanhar como ocorre o desenvolvimento da saúde psicológica (apego seguro) e das doenças psicológicas (apego inseguro). O Transtorno Alimentar é uma forma de adoecimento psíquico; portanto, apresenta formas inseguras de apego/vínculo.
Para o apego inseguro, existem duas maneiras de manifestação: o apego inseguro ansioso e o evitativo. A identificação do tipo de padrão de vinculação do paciente é muito importante para o direcionamento do tratamento, o qual procurará proporcionar a construção de vinculações seguras, ou seja, aquelas que promovem a experiência de amparo.
Assim, para concluir, os estudos científicos, nos quais me embasei para este texto, indicam que, de acordo com a particularidade de cada pessoa que está em tratamento psicológico, pacientes com TA podem se beneficiar de algumas abordagens durante o acompanhamento com o psicólogo, tais como: regulação de problemas de impulsividade; autorreflexões; promoção da melhora dos relacionamentos com as pessoas em volta; auto-observação e reflexão do quanto os afetos instáveis podem impactar negativamente a vida daquela pessoa; observação de quando os afetos que causam instabilidade ocorrem; criação de repertório para lidar com situações de conflitos; possibilitar a expressão das experiências das emoções e dos sentimentos.
Marcela Nunes Paulino de Carvalho
Psicóloga clínica especialista em Psicologia Hospitalar pelo Instituto Central HC-FMUSP. Pós-graduanda em Teoria Psicanalítica pela PUC. Aprimorada em Transtornos Alimentares pelo curso de Aprimoramento Interdisciplinar em Transtornos Alimentares – AMBULIM-HC-FMUSP. Atua como psicóloga voluntária/colaboradora no grupo de Imagem Corporal e Percepções do Corpo no AMBULIM-HC-FMUSP. Psicóloga voluntária/colaboradora do Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência (PROTAD – HC – FMUSP).
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