Transtornos alimentares em homens: quais as reais evidências?

 

É fato que a literatura científica atual permanece limitada nos estudos relacionados aos transtornos alimentares (TAs) em homens.  Apenas 1% das pesquisas em TAs é focada no sexo masculino e estas publicações revelam que os sintomas alimentares podem ter apresentações específicas nesta população. Por muitos anos classicamente se acreditou que a prevalência média de homens portadores de TAs guardava uma relação de 1 homem a cada 9 mulheres; contudo estudos mais recentes revelam que atualmente 1 a cada 4 casos de anorexia ou bulimia nervosa são diagnosticados em homens; uma prevalência bem superior ao que se acreditava.

Não há dúvidas sobre o aumento do diagnóstico dos transtornos alimentares mais conhecidos (anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar) entre homens na última década, contudo ainda se questiona se os profissionais de saúde e familiares estão mais atentos à possibilidade do diagnóstico de TAs em homens ou se, de fato, os homens estão buscando voluntariamente com mais frequência um tratamento. Infelizmente, os TAs ficaram inadequadamente estigmatizados por serem uma doença feminina, dificultando a identificação destes transtornos em homens e promovendo um constrangimento para seu portador em ser diagnosticado, o que atrasa o início de um tratamento apropriado.

Alguns fatores de risco contribuem com o aumento de AN e BN em homens, como a passado de obesidade na infância ou entre praticantes de esportes que se exigem o baixo peso ou baixo percentual de gordura corporal.  Além disso, comparado às mulheres, costuma ter o início dos sintomas mais tardio, apresentarem maior prevalência de etilismo abusivo e uso de outras substâncias ilícitas, apresentarem mais comportamentos compensatórios não-purgativos (como jejum prolongado e atividade física exagerada), e, além dos sintomas típicos destes TAs, apresentarem uma característica de insatisfação com a imagem muscular corporal.

Então, na verdade, sabe-se hoje que os transtornos alimentares não são uma doença exclusivamente feminina e que sua prevalência tem crescido entre homens jovens.

 

Dr. Alexandre Pinto de Azevedo

Médico Psiquiatra. Coordenador do Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade (GRECCO) do AMBULIM-IPq-HC-FMUSP. Coordenador do Ambulatório de Atendimento a Homens com Transtornos Alimentares (GAHTA) do AMBULIM-IPq-HC-FMUSP. Supervisor de Médicos Residentes (R3) em Psiquiatria do AMBULIM IPQ HC FMUSP.


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