Aspectos nutricionais antes da cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica (CB) e metabólica, também conhecida como cirurgia da obesidade ou redução de estômago tem como objetivo promover não apenas a perda de peso, como também o controle ou remissão de doenças endocrinológicas, como diabetes, hipertensão e a dislipidemias.

Como a CB é complexa, ao pensar nos aspectos nutricionais que a antecedem, precisamos considerar os aspectos fisiológicos, emocionais e socioculturais da alimentação. Ou seja, é de extrema importância uma análise do comportamento alimentar.

O comportamento alimentar pode ser influenciado por diversos fatores e entre os mais importantes estão as crenças como crença do “milagre cirúrgico” faz com que as pessoas busquem a cirurgia como uma nova solução eficaz e passiva e não considerem todo o processo envolvido, que não se inicia e nem termina na operação em si.

A CB traz consigo a necessidade de mudanças drásticas e rápidas nos hábitos alimentares, sociais e comportamentais. Como a redução do estômago modifica a capacidade do volume ingerido, podem aparecer dificuldades de adaptações entre a percepção de “saciedade real” em relação à “saciedade visual”, assim como dificuldades de adaptações nas quantidades e frequências das refeições. Esses aspectos quando não trabalhados antes da CB, podem dificultar a normalização do padrão alimentar e piorar a relação com a comida. Em consequência, aumenta o risco de um comer transtornado, como por exemplo maior sensação de perda de controle ao comer, compulsões alimentares de forma subjetiva, comer beliscador, comer noturno e comportamentos inadequados por medo do reganho de peso.

Mesmo a redução de peso corporal sendo atingida após a CB, existe ainda o possível reganho de peso significativo, principalmente após dois anos da cirurgia. Quando não bem orientado, este aumento de peso é visto pelo paciente como “insucesso da cirurgia”, gerando uma sensação de fracasso, frustração e culpa.

Além disso, é preciso considerar as mudanças de imagem corporal em função da perda de peso rápida e as dificuldades comuns após a CB, como a síndrome de dumping, entalo, diarreias e outras. Todas estas alterações aumentam a dificuldade de adaptação e adesão ao processo pós cirúrgico.

 

Com isso é de extrema importância o processo do paciente antes da CB, compreender e trabalhar aspectos que envolvam: o acolhimento e escuta; funcionamento familiar; histórico de dietas; padrão alimentar; preferências, intolerâncias e dificuldades alimentares; crenças nutricionais; imagem corporal; reconhecimento dos sinais do corpo relacionados à fome e à saciedade; e outros.  Avaliar a relação que estes pacientes possuem com a comida e o corpo antes de cogitar a CB é fundamental para identificar e prevenir transtornos alimentares e assim gerar melhores intervenções multidisciplinares, quando a cirurgia for uma opção.

Todos estes aspectos nutricionais antes da CB são fundamentais para que o paciente consiga buscar uma readaptação e normalização do padrão alimentar, manter uma relação saudável com a comida e atingir sua autonomia alimentar, compreendendo que a perda de peso é uma consequência de um processo longo e complexo.

 

 

 

Tamiris Lavorato Gaeta – CRN-3:40572

Nutricionista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Graduação Sanduíche pelo Observatório de Alimentação (ODELA) do departamento de Antropologia e Sociologia da Universitat de Barcelona (UB) – ESP. Especializada em Transtornos Alimentares pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Mestranda pela Departamento de Ciências Médicas do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Nutricionista colaboradora do Programa de Transtornos Alimentares (AMBULIM) do IPq-HC-FMUSP. Nutricionista colaboradora Grupo de Estudo em Comer Compulsivo e Obesidade (GRECCO) e Programa de Pesquisa em Compulsão Alimentar, Sobrepeso e Obesidade (PROCASO) do AMBULIM-IPq-HC-FMUSP. Instagram: @tamirisgaeta.

 

 

 

REFERENCIAS:

  1. ALVARENGA, M.; FIGUEIREDO, M.; TIMERMAN, F.; ANTONACCIO, C. Nutrição comportamental. Barueri: Manole, 2015.
  2. ALVARENGA, M.; DUNKER, K.; PHILIPPI, S. Transtornos alimentares e nutrição: da prevenção ao tratamento. Barueri [SP]: Manole, 2020.
  3. SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariatrica e Metabólica. Outubro 2017. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/a-cirurgia-bariatrica/#1508952707816-97a0203c-bf06
  4. SOUSA, AR; ANDRADE, A.C; ALBUQUERUQUE, H.J.M; ROCHA, E. C. Nutrição Comportamental e Cirurgia Bariátrica: Contextos E Desafios. In OLIVEIRA, R.P.G; FILHO, R.G.O; (orgs). Revisão da teoria e da prática médica 2 – Ponta Grossa (PR): Atena Editora, 2019.
  5. MOLINER, J; RABUSKE, MM. Fatores biopsicossociais envolvidos na decisão de realização da cirurgia bariátrica. Psicol. teor. prat.. 2008.