O papel do cirurgião-dentista no atendimento ao paciente com transtorno alimentar

 

Os transtornos alimentares (TA) causam consequências não só na saúde geral como também na saúde bucal dos pacientes. A condição bucal pode ser extremamente afetada pelo comportamento do paciente e pelas alterações fisiológicas que afetam a região orofacial. A desnutrição e a autoindução de vômitos presentes nos quadros de anorexia nervosa e de bulimia nervosa, por exemplo, em seus diversos graus de gravidade, podem causar: erosão dentária (em decorrência da ação do suco gástrico nos dentes), candidíase oral, mucosite, queilite, alterações nas glândulas salivares, lábios secos, ardência em língua, edema em glândulas parótidas, maior prevalência de gengivite e de lesões de cárie, recessão gengival, alterações nos parâmetros salivares, e presença ou agravamento do quadro de dor orofacial e de disfunção temporomandibular. Tais sinais e sintomas podem ser agravados pela deficiência nutricional, distúrbios metabólicos, higiene oral deficiente e fármacos que causem xerostomia (sensação de boca seca).

Tais alterações causam desconforto, dor e prejuízos na estética e na qualidade de vida, interferem no estado emocional além de dificultar a ingesta alimentar, comprometendo, ainda mais, o estado nutricional desses pacientes.

A alimentação e o bem-estar físico e geral são fatores essenciais para um melhor prognóstico no tratamento de pacientes com transtornos alimentares. Desse modo, o reconhecimento das manifestações bucais presentes em portadores de TA é fundamental, porque esses sinais e sintomas podem informar sobre a progressão da doença, e, paralelamente, sobre estado de saúde geral do paciente, sendo de grande importância, haja vista que os cirurgiões-dentistas podem ser um dos primeiros profissionais da saúde a terem contato com este grupo de pacientes reconhecendo as manifestações bucais decorrentes desses transtornos.

O tratamento odontológico recomendado é dentro do atendimento multidisciplinar, para estar adequado ao tipo de tratamento e ao melhor momento clínico para ser realizado, levando-se em consideração a saúde do paciente, suas queixas, seu estado médico e emocional atual e suas expectativas. Por isso, o apoio de psicólogos, médicos, educadores físicos e nutricionistas são de fundamental importância, também, para o sucesso no tratamento odontológico, que deve seguir um plano de tratamento específico para cada paciente.

 

Samanta Pereira de Souza

Cirurgiã-Dentista; Mestre em Ciências da Saúde (Faculdade de Medicina da USP) ;  Pós-graduada em Odontologia Hospitalar/Pacientes com Necessidades Especiais (Instituto de Psiquiatria – Hospital das Clínicas da FMUSP); Pós-graduanda em Medicina Tradicional Chinesa; Pós-graduanda em Laserterapia; Pesquisadora na área de Saúde Bucal em Pacientes com Transtornos Alimentares; Colaboradora do AMBULIM

Docente no curso de Odontologia na Universidade Nove de Julho

samantaodonto@gmail.com/ www.especialodonto.com.br


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