IMAGEM CORPORAL: O CORPO QUE EU VEJO

Os estudos sobre imagem corporal começaram no século XVI na França, mas foi a partir de meados do século XX, por influência de um Neurologista (Henry Head) da escola Britânica, que o tema passou por um aumento exponencial no número de pesquisas.

A imagem corporal é a percepção que temos do nosso próprio corpo e as emoções, pensamentos e comportamentos que se originam desta percepção (Slade, 1994). De maneira simplória, Paul Schilder (1994), um importante nome para esse campo de estudo, a definiu como “a expressão do nosso corpo formado em nossa mente”. Na atualidade, a imagem corporal é descrita como um construto multidimensional e dinâmico, lábil, em constante modificação (Cash & Smolak, 2011).

A multidimensionalidade da imagem corporal se deve ao fato que ela possui ao menos duas dimensões: a atitudinal e a perceptiva. A primeira engloba sentimentos, crenças e comportamentos em relação ao corpo e a aparência física. A segunda diz respeito à exatidão ou não no julgamento do tamanho e forma corporal. Essas dimensões são importantes focos de avaliação de pesquisadores e clínicos, que devem se atentar a interconexão entre elas.

Nossa imagem corporal recebe influência de inúmeros fatores internos (nossos aspectos biopsicofisiológicos) e externos (influências socioculturais). Para este último podemos destacar a exposição ao conteúdo de mídias sociais, conceitos propagados entre familiares e amigos, além dos padrões de corpo e beleza culturalmente disseminados, o que impacta não só o nosso corpo, mas também nossa relação com a comida. Todos esses fatores vão orientar o aparecimento de sentimentos positivos, neutros ou negativos em relação à nossa imagem corporal. Cabe enfatizar que preocupa, em especial, o desenvolvimento de distúrbios de imagem corporal e distorção da imagem corporal.

Uma relação conturbada com a própria imagem corporal pode desencadear sintomas leves, como a insatisfação com o corpo ou alterações na percepção corporal, podendo progredir para sintomas mais graves, como desenvolvimento de imagem corporal negativa ou elevada insatisfação corporal e distorção corporal. Alterações na imagem corporal podem trazer consequências desastrosas ao indivíduo, como o desenvolvimento de transtornos alimentares, elevação de sintomas depressivos (ou mesmo, depressão), baixa autoestima, aumento da ansiedade, elevado grau de comparação social, com consequente diminuição da qualidade de vida e saúde dos indivíduos (Cash & Smolak, 2011).

Pesquisa recente revelou altos índices de insatisfação corporal entre os praticantes de atividades físicas brasileiros, apontando que aproximadamente 60% das mulheres e 57% dos homens apresentam algum grau de insatisfação com seu corpo (Macedo et al, 2019). Cabe destacar que a insatisfação demonstra-se de forma diferente entre homens e mulheres. Os homens geralmente almejam corpos mais musculosos, com maior volume corporal e sem gordura aparente; já as mulheres tendem a buscar corpos mais finos, com pouca quantidade de gordura, porém, bem delineados, mesmo que já estejam abaixo do peso. Sendo assim, é de extrema importância considerar quais as crenças, sentimentos e comportamentos dos indivíduos para melhor compreender sua relação com o próprio corpo.

Distúrbios e distorções da imagem corporal estão intimamente relacionados ao surgimento de transtornos alimentares. Sendo assim, o estudo aprofundado da imagem corporal e sua inclusão enquanto elemento essencial no tratamento de pacientes com transtornos alimentares deve ser estimulado. Importante destacar que o foco não é apenas a diminuição dos níveis de insatisfação corporal, mas também o aumento de aspectos positivos em relação ao próprio corpo. Ser capaz de aceitar, apreciar e respeitar o próprio corpo são aspectos importantes para o fortalecimento da imagem corporal positiva ou satisfação corporal (Tylka & Wood-Barcalow, 2015). Adotar estratégias para melhorar a autoestima e autoaceitação, bem como atitudes e comportamentos para uma vida mais saudável, ajudam a construir um bom “relacionamento” entre o indivíduo e seu corpo. Aumentar a satisfação com o próprio corpo nos torna mais confiantes e com uma concepção real de quem somos!

 

Referências

Cash TF., Smolak L. (Eds.). Body image: A handbook of science, practice, and prevention (2nd ed.). New York: The Guilford Press, 2011.

Macedo JL. et al. Prevalência de insatisfação corporal em praticantes de atividade física. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 13, n. 81, p. 617-623, 2019.

Slade PD. What is body image?. Behaviour Research and Therapy, v. 32, n. 5, p. 497-502, 1994.

Schilder P. A imagem do corpo: As energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

Tylka TL, Wood-Barcalow NL. What is and what is not positive body image? Conceptual foundations and construct definition. Body Image, v. 14, p. 118-129, 2015.

 

 

Priscila Figueiredo Campos

Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, especialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade Veiga de Almeida, mestrado em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora; atualmente é doutoranda do mesmo programa. Integrante do NECOS (Núcleo de Estudos Educação Física, Corpo e Sociedade). É docente no curso de Educação Física da Universidade Vale do Rio Doce.


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