É comum que na infância, algumas crianças apresentem alguma dificuldade em comer alimentos variados e tenham preferência por determinados tipos de alimento. Daí surgiu o termo “paladar infantil”. Na grande maioria dos casos, com o amadurecimento, o repertório alimentar vai sendo ampliado, e quando chegam na idade adulta, essa seletividade alimentar já não é mais tão presente.
No entanto, em alguns casos, a seletividade alimentar traz grandes prejuízos e gera intenso sofrimento. É o que caracteriza o TARE- Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo.
O TARE é uma doença psiquiátrica, assim como os demais transtornos alimentares. No entanto, diferentemente de outros transtornos alimentares, a restrição alimentar não é consequência de uma preocupação com a imagem corporal. No caso do TARE, há um padrão alimentar limitado em variedade e/ou quantidade devido alterações biológicas que provocam sensibilidade sensorial, comportamento aversivo e/ou desinteresse pela comida. Devido a variedade de apresentações clínicas, a população acometida também pode ser bastante heterogênea, incluindo indivíduos desnutridos em consequência da baixa ingesta alimentar e indivíduos eutróficos ou com sobrepeso, que comem pouca variedade, mas se alimentam de comidas com alto teor calórico. Além disso, é importante ressaltar que não é um transtorno exclusivo da infância. Adultos também podem ser acometidos, especialmente quando não há intervenção precoce, ainda na infância. As pessoas que têm TARE costumam apresentar um sofrimento intenso. Sentem-se julgadas pela família e amigos por não conseguirem ter hábitos alimentares regulares e mais saudáveis, são taxadas de “frescas” e de não terem força de vontade. Com o tempo passam a ter vergonha de comer em eventos, restaurantes e com outras pessoas, causando um grande impacto na vida social. O tratamento deve envolver diferentes profissionais, como um médico psiquiatra, psicólogo, nutricionista e em alguns casos fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. O objetivo do tratamento é fornecer ao paciente uma melhora dos aspectos nutricionais e sociais e possibilitar o reestabelecimento da saúde física e mental.
Bruna Basso Boaretto
Médica Psiquiatra, colaboradora do PROTAD Ipq HC-FMUSP, fundadora do Centro Especializado em Transtornos Alimentares (CETA) Curitiba-Pr.
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