Eu sempre fui uma criança “gordinha”. Por mais que me alimentasse de forma saudável e fizesse esporte, aquele era meu biotipo. E o que era para ser algo pessoal meu, virou motivo de comentários que incentivaram que eu começasse a enxergar meu corpo de forma distorcida e com profundo desprezo. Desde a pré escola lembro de ouvir piadinhas sobre meu corpo, mas como sempre fui muito tranquila, eu apenas ignorava e levava com bom humor. Mas dentro de casa eu não ouvia um “gorda, baleia” como das crianças. Ouvia que eu era horrível, que tinham vergonha de mim, que nunca arrumaria um “namoradinho”, que ninguém seria meu amigo, entre outras coisas ainda mais pesadas. Comecei a me comparar com todos a minha volta, da mesma forma que faziam comigo diariamente. Eu me achava inferior as minhas colegas da ginástica, então parei de frequentar. Me achava insuficiente perto dos meus colegas, então passei a me isolar. Via na mídia as pessoas seguindo um padrão, e achava que só daquele jeito eu seria feliz e teria um futuro. Eu estava desesperada, e na minha mente, precisava fazer algo urgente para mudar aquela realidade e finalmente ser aceita. Sem nem saber do que se tratava, comecei a desenvolver anorexia nervosa. Era muita pressão estética de todos os lados. Eu, criança, me sentia perdida. Ao invés de estar brincando, já sabia ler tabela periódica e contava calorias dos alimentos. Ficava dias sem comer direito, e quando comia, passava horas fazendo exercícios em excesso para “compensar”. Meu IMC estava MUITO abaixo do que deveria. Emagreci de forma drástica, não parava mais em pé, não tinha forças, desmaiava o tempo inteiro e era internada todas as vezes que alguma ambulância tinha que me buscar. Continuei a ouvir que eu estava horrível, mas desta vez, por magreza. Ninguém se contentava com nada. E eu estava doente, me vi internada em estado grave, com pessoas duvidando da minha cura e me ameaçando o tempo inteiro. Julgamentos me cercavam. Eu não merecia. Ninguém merece. Mas podemos mudar isso. A falta do conhecimento fez com que eu sofresse psicofobia até mesmo dentro do hospital. Diziam que era frescura, drama, vitimismo, egoísmo, que eu queria chamar atenção e que era tudo proposital. Foram anos dessa forma. E eu não tinha culpa. Por favor, vamos falar sobre. Cuidar das nossas crianças, mostrar que cada um é lindo da forma que é, e que magreza não traz felicidade, mas pensamentos como esse podem trazer tristeza e sofrimento. Precisamos repensar sobre o que estamos falando, o que estamos ouvindo e absorvendo, os conteúdos que temos consumido e os influenciadores que seguimos. Corpos reais existem e devem ser valorizados! O melhor caminho é o do autoconhecimento, da liberdade de ser quem é, da valorização de quem somos e das nossas singularidades. Cada um tem uma estrutura óssea e muscular, e é perda de tempo ficar deixando de viver pelo medo do que os outros vão pensar. Nossa vida vale MUITO MAIS! Transtornos alimentares tem saída, acredite! Você merece se sentir bem, merece ser feliz, e NUNCA estará só. Procure ajuda.
17 anos, estudante, amante da psicologia e futura atriz. Insta: @larihmeness