Estudos mostram que a prevalência de transtornos alimentares (TA) em atletas é maior do que na população em geral. Apesar de serem vistos como “exemplos de saúde”, atletas adotam, frequentemente, condutas extremas e não-saudáveis para atingirem o máximo em sua performance.
Podemos dividir os atletas em dois grupos: amadores e profissionais. Os amadores praticam o esporte sem remuneração, mas por prazer e participam apenas de competições educacionais. Atletas profissionais têm o esporte como profissão, ganhando dinheiro para praticarem e participarem de competições nacionais e internacionais.
Mas, ao contrário do que muitas pessoas pensam, é muito comum ter casos de TA em diversas modalidades esportivas, principalmente aquelas que priorizam o baixo peso (patinação, ginásticas artística e rítmica, nado sincronizado, saltos em altura e com vara, etc.) e os que têm categorias divididas por peso corporal (boxe, judô, MMA, etc.). Dietas restritivas, exercício em excesso e uso de medicamentos (como laxantes e diuréticos) são condutas inadequadas muito comuns no meio esportivo.
Pressão para alcançar a máxima performance, pressão do treinador e da família, esportes que priorizam o corpo magro ou tem divisão de categorias por peso, se adequar ao estereotipo da modalidade e iniciar precocemente em alguma modalidade esportiva são alguns dos fatores de risco para TA no esporte. Estudos também apontam que mulheres apresentam mais TA do que homens no esporte e que elas buscam mais o corpo magro enquanto que os atletas homens priorizam a muscularidade. Mas, com a evolução dos atletas e do treinamento esportivo, nota-se que essa informação pode mudar daqui algum tempo. Atletas mulheres, da ginástica artística, por exemplo, já se apresentam com corpos mais musculosos do que víamos há alguns anos.
Nos esportes de combate (que têm divisão de categoria por peso) é comum ver atletas que fazem restrição de ingestão de alimentos e líquidos e uso de métodos compensatórios (que trazem grandes riscos para a saúde) como saunas, praticar exercícios com plásticos no corpo, uso de laxantes e diuréticos para alcançarem o peso alvo até o dia da pesagem. A maioria compete em categorias abaixo do seu peso “natural”, precisando perder muito peso até a data da pesagem. Esse peso é recuperado de forma drástica para que o lutador esteja menos debilitado, com maior peso no dia da luta e, assim, de alguma forma, estar em vantagem frente ao adversário.
Grande parte dos estudos mostra a necessidade de maiores informações sobre TA e comportamentos de risco para atletas, familiares e toda a equipe envolvida. Um dos grandes problemas do esporte é que muitos comportamentos considerados de risco são considerados comuns e são até reforçados e enaltecidos por treinadores e colegas de equipe. A informação possibilita identificar esses comportamentos precocemente, evitando o desenvolvimento de um TA ou podendo encaminhar o atleta para o tratamento antes que o quadro se agrave.
Atletas são profissionais que usam seus corpos como ferramenta de trabalho e, portanto, fazem de tudo para conseguir atingir os lugares mais altos do pódio, mesmo que isso custe sua saúde física e mental. Se você trabalha com essa população, fique atento aos sinais e sintomas de que alguma coisa não está indo bem. Assim como em não-atletas, o tratamento deve ser multiprofissional e, principalmente, interdisciplinar. A informação continua sendo a melhor forma de prevenir e tratar os TA em atletas. Informe-se e compartilhe essas informações com atletas e colegas da equipe.
Camila Gancho Portella
Profissional de Educação Física (CREF 92.445-G/SP) e colaboradora do Ambulim, especialista em Nutrição Aplicada ao Esporte e Atividade Física (EEFE – USP) com aprimoramento em Gerontologia (FM – USP) e em Transtornos Alimentares (Ambulim – HC-SP).
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